segunda-feira, 2 de maio de 2011

[CRÍTICA] Rashomon


Rashomon (Rashômon, Japão)

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Direção: Akira Kurosawa
Roteiro: Akira Kurosawa, Kazuo Miyagawa, Ryonosuke Akutagawa, Shinobu Hashimoto
Elenco: Minoru Chiaki (Sacerdote), Takashi Shimura (Lenhador), Kichijiro Ueda (Plebeu), Machiko Kyô (Masako Kanasawa), Toshirô Mifune (Tajômaru), Masayuki Mori (Takehiro Kanasawa), Fumiko Honma (Médium), Daisuke Katô (Policial)
Ano de lançamento: 1950
Duração: 88 min.

Sinopse: O filme descreve um estupro e assassinato através dos relatos amplamente divergentes de quatro testemunhas. A história se desvela em flashbacks conforme quatro personagens recontam os eventos de uma tarde em um bosque, através de um flashback dentro de outro, pois os relatos das testemunhas são recontados por um lenhador (Takashi Shimura) e um sacerdote (Minoru Chiaki) para um grosseiro plebeu (Kichijiro Ueda), enquanto eles esperam por uma tempestade em um portal arruinado. Cada história é mutuamente contraditória, deixando o espectador incapaz de determinar a verdade sobre os eventos.

Crítica:
Considerado a obra-prima de Akira Kurosawa, dono de um dos roteiros mais inovadores do cinema, Rashomon é um dos filmes de maior influência da história da 7ª arte, tendo servido de fonte de inspiração tanto para inúmeras produções cinematográficas, como também para séries de TV e até desenhos animados. Com tantos atributos, falar desta obra de Kurosawa se torna uma tarefa que intimida qualquer cinéfilo que se dedica a escrever sobre sua paixão e tem o mínimo de respeito por ela.

A trama é envolvente do início ao fim, explorando múltiplos pontos de vista, e a verdade por trás do assassinado de um samurai. Nela importa mais desvendar os motivos que levaram cada personagem a contar versões contraditórias de um mesmo fato, do que a verdade em si. É interessante notar que cada narrador opta por uma abordagem que, de uma maneira ou de outra, preserve sua honra, uma das virtudes mais valorizadas pelos japoneses.

Já a direção de Kurosawa exibe um virtuosismo que em nenhum momento é usado gratuitamente. Seus travellings surgem na medida certa, embrenhando-se na floresta em que se passa boa parte da trama, sem que a câmera que acompanha toda a ação do elenco se perca em tomadas confusas. Seus ângulos e enquadramentos são determinados com precisão, compondo um mise en scène harmônico. Além disso, durante as cenas dos depoimentos, Kurosawa opta por jamais mostrar os interrogadores, cujas vozes sequer são ouvidas, evidenciando seu desejo de reservar tal papel a nós, espectadores, que acompanhamos as narrativas conflituosas.

É notória ainda a estrutura engenhosa do roteiro, que se desenrola em três níveis distintos: o primeiro sendo aquele em que o padre, o lenhador e o plebeu conversam debaixo do portal Rashomon; enquanto no segundo temos as seqüências que correspondem às narrativas do lenhador e do padre referentes aos interrogatórios; e no terceiro temos as múltiplas versões do crime da floresta. A maneira com que os três são apresentados e se alternam é elegante o bastante para tornar a trama mais intrigante do que confusa (embora haja uma parcela intencional de confusão).

Confesso que as atuações me incomodaram um pouco por seu overacting, mas, levando em conta que a maioria delas estão inseridas nas narrativas apresentadas pelo lenhador e o padre ao plebeu, não se pode descartar a idéia de que as mesmas refletem a impressão dos narradores sobre aqueles personagens, e não os personagens tais como são na realidade.

Seja como for, 61 anos depois, Rashomon permanece como uma obra que merece todo prestígio e respeito que conquistou. Magnum opus de um dos diretores cuja obra todo amante de cinema deve conhecer.

Nota: 5 de 5

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