quarta-feira, 31 de agosto de 2011

[CRÍTICA] Operação França

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Título original: The French Connection
Diretor: William Friedkin
Roteiro: Ernest Tidyman
Elenco: Gene Hackman (Jimmy "Popeye" Doyle), Roy Scheider (Buddy Russo), Fernando Rey (Alain Charnier), Tony Lo Bianco (Sal Boca), Marcel Bozzuffi (Pierre Nicoli), Frédéric de Pasquale (Devereaux), Bill Hickman (Mulderig)
Ano: 1971
Duração: 104 min.


William Friedkin é um dos grandes responsáveis pela disseminação da estética “câmera na mão” graças a Operação França. Mas, ao contrário da maioria dos diretores que empregam a técnica atualmente, não há tremedeiras epilépticas, mas um uso inteligente das câmeras, que transmite a inquietação e urgência das operações da dupla de policiais vivida por Gene Hackman e Roy Scheider.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

[CRÍTICA] Patton - Rebelde ou Herói?

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Título original: Patton
Direção: Franklin J. Shafner
Roteiro: Francis Ford Coppola e Edmund H. North
Elenco: George C. Scott (Gen. George S. Patton Jr.), Karl Malden (Gen. Omar N. Bradley), Stephen Young (Cap. Chester B. Hansen), Michael Strong (Brig. Gen. Hobart Carver), Albert Dumortier (ministro marroquino), Frank Latimore (Ten. Cel. Henry Davenport), Morgan Paull (Cap. Richard N. Jenson), Karl Michael Vogler (Marechal de Campo Erwin Rommel)
Ano: 1970


Dono de uma das aberturas mais icônicas do cinema norte-americano, Patton - Rebelde ou Herói? hipnotiza o espectador já em seus primeiros minutos. Um general, lotado de medalhas no peito, discursando de maneira franca e enérgica diante de uma imensa bandeira dos Estados Unidos, é uma imagem que desperta uma curiosidade natural, especialmente pela postura desafiadora do homem diante de um símbolo colossal.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

[CRÍTICA] Meu Ódio Será Sua Herança

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Título original: The Wild Bunch
Diretor: Sam Peckinpah
Roteiro: Walon Green e Sam Peckinpah
Elenco: Willian Holden (Pike Bishop), Ernest Borgnine (Dutch Engstrom), Robert Ryan (Deke Thornton), Edmond O'Brien (Freddie Sykes), Warren Oates (Lyle Gorch), Jaime Sánchez (Angel), Ben Johnson (Tector Gorch), Emilio Fernández (Gen. Mapache), Strother Martin (Coffer), L.Q. Jones (T.C.)
Ano: 1969
Duração: 145 min.

"Todos sonhamos em ser criança de novo, mesmo os piores de nós.
Talvez os piores desejem mais." - Don Jose


A frase acima diz muito sobre os integrantes do tal “Bando Selvagem” do título original. Com exceção de Angel (Jaime Sánchez), que tem pretensões mais politizadas, os demais bandidos liderados por Pike Bishop (William Holden) parecem envolvidos no mundo do crime mais pela diversão, dinheiro, mulheres e bebedeira, do que em busca de um objetivo maior. Entregam-se de maneira inconsequente às suas paixões e instintos, no que parece uma tentativa de preservar o descompromisso da infância com qualquer tipo de convenção social. Um bando de selvagens, portanto.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

[CRÍTICA] O Planeta dos Macacos

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Título original: Planet of the Apes
Diretor: Franklin J. Schaffner
Roteiro: Michael Wilson e Rod Serling
Elenco: Charlton Heston (Coronel George Taylor), Roddy McDowall (Cornelius), Kim Hunter (Dra. Zira), Maurice Evans (Dr. Zaius - Ministro da Ciência), James Whitmore (Presidente da Assembléia), James Daly (Dr. Honorius), Linda Harrison (Nova)
Ano: 1968
Duração: 112 min.


Às vésperas da estréia de Planeta dos Macacos - A Origem, fui assistir o clássico de 1968 pela primeira vez no último domingo. Mesmo sendo um filme tão conhecido e cultuado nos dias de hoje (a ponto de lançarem DVDs cuja ilustração da capa já entrega o “surpreendente” final, num verdadeiro desrespeito com quem ainda não conhece a obra), a produção possui qualidades que ainda se destacam, independente das décadas passadas desde o seu lançamento.

[CRÍTICA] Sanjuro

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Título original: Tsubaki Sanjûrô
Diretor: Akira Kurosawa
Roteiro: Ryûzô Kikushima, Hideo Oguni e Akira Kurosawa
Elenco: Toshirô Mifune (Sanjurô Tsubaki, O Samurai), Tatsuya Nakadai (Hanbei Muroto), Keiju Kobayashi (O Espião), Yûzô Kayama (Iori Izaka), Reiko Dan (Chidori, filha de Mutsuta), Takashi Shimura (Kurofuji), Kamatari Fujiwara (Takebayashi), Takako Irie (esposa de Mutsuta), Masao Shimizu (Kikui), Yûnosuke Itô (Mutsuta, o Camareiro)
Ano: 1962
Duração: 96 min.


Nesta continuação de Yojimbo (crítica aqui) o que chama a atenção logo no início é a rápida introdução, em que a premissa é apresentada de maneira súbita, representando um desafio ao espectador, que demora algum tempo até entender quem é quem, e qual exatamente é o problema enfrentado pelo grupo inicial de personagens.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

[CRÍTICA] O Planeta Proibido




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Título Original: Forbidden Planet
Diretor: Fred M. Wilcox
Roteiro: Cyril Hume
Elenco: Leslie Nielsen (Comandante J. J. Adams), Walter Pidgeon (Dr. Edward Morbius), Anne Francis (Altaira "Alta" Morbius), Warren Stevens ("Doc" Ostrow)
Ano: 1956
Duração: 98 min.


O Planeta Proibido é daqueles clássicos da ficção científica que envelheceram bem. Apesar do uso de idéias embasadas no conhecimento científico da época tornar algumas delas antiquadas e até absurdas (a corrida espacial entre os EUA e a União Soviética começaria pra valer apenas no ano seguinte, com o lançamento do satélite artificial Sputnik pelos russos), a qualidade da produção, e a engenhosidade do roteiro, conferem ao filme aquele charme dos bons exemplares do gênero, que dão ao espectador a chance de se divertir vendo como imaginavam o futuro na década de 1950, em que a exploração espacial estava mais ligada à fantasia do que à ciência.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

[CRÍTICA] Super 8


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Diretor: J. J. Abrams
Roteiro: J. J. Abrams
Elenco: Joel Courtney (Joe Lamb), Elle Fanning (Alice Dainard), Riley Griffiths (Charles), Ryan Lee (IX) (Cary), Gabriel Basso (Martin), Kyle Chandler (Jackson Lamb), Ron Eldard (Louis Dainard), Amanda Michalka (Jen Kaznyk), Zach Mills (Preston), Beau Knapp (Breen), Noah Emmerich (Nelec), Joel McKinnon Miller (Mr. Kaznyk), Jessica Tuck (Mrs. Kaznyk), Jade Griffiths (Benji Kaznyk), Britt Flatmo (Peg Kaznyk), Glynn Turman (Dr. Woodward), Richard T. Jones (Overmyer), Amanda Foreman (Lydia Connors - Ch 14 News Anchor), David Gallagher (Donny), Brett Rice (Sheriff Pruitt), Bruce Greenwood (Cooper), Dale Dickey (Edie), Jack Axelrod (Mr. Blakely), Dan Castellaneta (Izzy)
Ano: 2011
Duração: 112 min.

Super 8, segundo o próprio J. J. Abrams definiu numa entrevista, é como aquelas brincadeiras que fazemos quando criança, em que imaginamos nossa cidade sendo invadida por alienígenas ou zumbis, e tudo acaba sendo uma desculpa pra impressionarmos a menina por quem somos apaixonados com algum ato heróico. Não é à toa que a idade dos garotos bate com a que Abrams tinha na época em que a história se passa (1979). Joe (Joel Courtney) é a versão alternativa de Abrams num passado que jamais existiu, mas que ele desejou muito que tivesse acontecido.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

[ANÁLISE SIMBÓLICA] A Árvore da Vida


Um Mergulho no Simbolismo de Terrence Malick

(contém SPOILERS)

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Título original: The Tree of Life
Diretor: Terrence Malick
Roteiro: Terrence Malick
Elenco: Brad Pitt (Sr. O'Brien), Sean Penn (Jack), Jessica Chastain (Sra. O'Brien), Hunter McCraken (Jovem Jack), Laramie Eppler (R.L.), Tye Sheridan (Steve)
Duração: 139 min.
Ano: 2011


A Árvore da Vida é dotado de uma hábil fluidez com a qual Malick encadeia seus questionamentos e reflexões por intermédio de seus personagens, e de imagens plasticamente belas e sutis, que compõem ricas metáforas visuais, as quais cobrem um período da história da vida na Terra, partindo da formação de sua estrutura geológica, sua biogênese, até alcançar o ponto desta macroestrutura narrativa onde está inserida a história da família O’Brien, e de seu primogênito, Jack.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

[CRÍTICA] Disque M Para Matar

Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Frederick Knott
Elenco: Ray Milland (Tony Wendice), Grace Kelly (Margot Mary Wendice), Robert Cummings (Mark Halliday), John Williams (Inspetor Chefe Hubbard)
Duração: 105 min.
Ano:
1954


Em Disque M para Matar, Hitchcock exibe seu domínio pleno do cenário, dos objetos cênicos, e da dinâmica interna dos atores, num trabalho mais racional do que esteticamente belo e rico em simbolismos (embora eles existam). O diretor pouco interfere na narrativa, fugindo sabiamente de estilismos que chamem muita atenção para si, consciente da importância dos detalhes presentes na história, os quais têm papel fundamental em seu desenrolar.


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

[CRÍTICA] Cantando na Chuva

Direção: Gene Kelly e Stanley Donen
Roteiro: Adolph Green e Betty Comden
Elenco:
Gene Kelly (Don Lockwood), Donald O'Connor (Cosmo Brown), Debbie Reynolds (Kathy Selden) e Jean Hagen (Lina Lamont)
Duração: 103 min.
Ano:
1952

O maior mérito de Cantando na Chuva é reforçar o valor do musical como forma de contar uma história. O primeiro grande acerto do roteiro e da direção foi apresentar Don Lockwood (Gene Kelly), logo na introdução, contando um resumo da ascensão de sua carreira, partindo da época em que era um mero palhaço de pantomimas, até chegar a astro de filmes mudos, por meio de uma narrativa convencional. Com isto criou-se um contraste essencial entre esta e a versão musicada da mesma história, vista mais adiante no filme, ilustrando muito bem as diferenças de formato, e o modo como cada um lida com fatos e elementos dramáticos e cômicos de maneiras distintas.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

[CRÍTICA] Uma Aventura na África

Direção: John Huston
Roteiro: James Agee e
John Huston
Elenco: Humphrey Bogart (Charlie Allnut), Katharine Hepburn (Rose Sayer), Robert Morley (Rev. Samuel Sayer) e Peter Bull (Capitão do Louisa)
Duração: 105 min.
Ano:
1951


Uma Aventura na África proporciona uma experiência cinematográfica prazerosa. Sua narrativa não cansa, e seus personagens ganham muito pela qualidade de seus atores.

Humphrey Bogart conquista o público desde sua primeira aparição como Charlie. Sua simplicidade e humildade, muito bem dosados pelo ator, torna-o carismático pela expontaneidade e autentidade com que reage a cada situação. Jamais deixamos de acredita na sinceridade de cada palavra e gesto que dirige a Rose.

Já a Rose de Katharine Hepburn é esnobe e aristocrática, e demora um pouco mais para entrar nas graças do público. Enfrentando situações extremas para seu padrão de vida, de início ela se mostra fresca demais, e desdenha dos valores do barqueiro. Mas a atuação de Hepburn é tão boa quanto a de seu Bogart, pois nota-se desde o primeiro encontro de Rose com Charlie que há certa atração ali, disfarçada de uma curiosidade pelo exotismo que enxerga nele.

Portanto, quando passam a envolver-se romanticamente, compramos seu relacionamento amoroso, pois o roteiro e os atores são hábeis em plantar indícios; a química entre eles surge e desenvolve-se naturalmente; e as circunstâncias nas quais se encontram contribuem para que seus sentimentos aflorem de maneira lógica.

Claro que grande parte da diversão proporcionada pelo filme se deve à direção muito acertada de John Huston, que faz bom uso das locações, captando belas imagens das florestas da África, e renovando o interesse do expectador pelo que ocorre em torno do casal, evitando, assim, que a história torne-se monótona, caso foca-se apenas em seu romance.

Há ainda um ótimo equilíbrio entre passagens mais lentas, focadas nas conversas mais intimistas entre Charlie e Rose, e seus momentos mais românticos; e seqüências mais movimentados, em que o casal enfrenta correntezas perigosas, tiroteios, entre outros obstáculos que encontram pelo caminho.

Outro grande acerto do roteiro e da direção foi expôr a fragilidade física e emocional dos personagens, destacando-se o ponto da história em que o barco fica encalhado, e eles começam a perder as esperanças de seguir em frente, e a parte em que Charlie é atacado por sanguessugas.

Os maiores problemas do filme envolvem o uso excessivo de cromaqui, revelando diversas vezes a artificialidade de algumas cenas, e impedindo que acreditemos em alguns dos perigos enfrentados por Charlie e Rose. O mesmo valendo para o efeito usado no ataque de mosquitos, que é muito precário.

O final também exige um pouco mais de suspensão de descrença do que o restante da trama. Não chega a comprometer a obra como um todo, mas justamente por ela apresentar um roteiro tão bem resolvido até aquele ponto, merecia uma conclusão melhor estruturada.

Ainda assim, trata-se daqueles romances deliciosos de assistir, que só a década de 50 foi capaz de produzir.

domingo, 7 de agosto de 2011

[CRÍTICA] O Mágico de Oz

Direção: Victor Fleming
Roteiro: Noel Langley, Florence Ryerson e Edgar Allan Woolf
Elenco: Judy Garland (Dorothy Gale), Frank Morgan (Prof. Marvel / O Mágico de Oz / O Porteiro / O Piloto da Carruagem / O Guarda), Ray Bolger (Hunk / , Bert Lahr (Zeke / O Leão Covarde), Jack Haley (Hickory / O Homem de Lata), Billy Burke (Glinda), Margaret Hamilton (Srta. Gulch / A Bruxa Malvada do Oeste), Terry (Toto)
Duração: 101 min.
Ano:
1939


Filme atemporal pela aura de encanto que carrega consigo, O Mágico de Oz é um produto cinematográfico que, após mais de 7 décadas, foi alçado à condição de patrimônio cultural da humanidade. Difícil existir neste mundo quem não tenha, ao menos, visto alguma cena, ouvido uma canção, ou uma frase retirada dele.

Podemos falar da direção de arte esplendorosa, dos vibrantes números musicais, das falas que eternizaram-se, mas neste ponto o que quer que seja dito a seu respeito soaria redundante.

Sim, os efeitos especiais impressionam pela época em que foram realizados, sendo o mais impressionante deles, na minha opinião, o tornado no início do filme, que até hoje é convincente. Ou aquela truque sutil, quando Dorothy abre a porta de sua casa, toda em sépia, e vê pela primeira vez a explosão de cores do Mundo de Oz do outro lado. Hoje é um truque muito simples de ser feito com o uso de um computador, enquanto na época tiveram que bolar um verdadeiro truque de mágica para enganar os olhos dos espectadores, que saiu tão bem a ponto de funcionar até hoje.

Não sou um apreciador de musicais, mas foi difícil conter a emoção ao ouvir Somewhere Over The Rainbow pela primeira vez no contexto. Não faz a menor diferença já conhecer a música, e tê-la ouvido diversas vezes, pois quando você a escuta pela primeira vez no filme o efeito é totalmente outro. Pelo menos foi assim que aconteceu comigo. E o mesmo vale para vários dos trechos musicais e frases clássicas.

De uma época em que a magia do cinema estava mais poderosa do que nunca, O Mágico de Oz faz parte daquela seleta lista de filmes capazes de transportar seu público para um mundo fantástico, onde não é nem um pouco absurdo acreditar que personagens cantam toda vez que se conhecem, ou uma cidade inteira se mobiliza para receber uma visitante vinda de muito longe, e o maior dos problemas é resolvido batendo os calcanhares três vezes enquanto deseja ardorosamente voltar pra casa.

sábado, 6 de agosto de 2011

[CRÍTICA] Psicose

Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Joseph Stefano
Elenco: Janet Leigh (Marion Crane), Anthony Perkins (Norman Bates), Vera Miles (Lila Crane) e John Gavin (Sam Loomis)
Duração: 109 min.
Ano:
1960

Psicose é outro daqueles grandes clássicos do cinema que intimida qualquer pessoa que o respeita como tal, e ainda assim deseja escrever uma opinião mais crítica a seu respeito.

Hithcock já não precisava provar mais nada na época que o dirigiu, tendo produzido alguns dos melhores suspenses já realizados, mas o fez, e novamente inovou com uma história conduzida com sua genialidade habitual.

Pequenos detalhes, como as cenas em que Marion imagina supostas conversas entre seus conhecidos em reação ao seu desaparecimento, que servem tanto para ilustrar seu estado psicológico, como para preencher lacunas da história. Ou a fixação de Norman Bates por pássaros, sugerindo seu desejo oculto por libertar-se de sua condição (além de ser um easter-egg não-intencional para o filme seguinte de Hitchcock). Todo esse cuidado no desenvolvimento dos personagens e na composição dos cenários é o que diferencia um bom diretor de um prodígio.

E não é a toa que o diretor nutria tanto respeito por Anthony Perkins durante as filmagens. Seu trabalho em Psicose é excepcional. Simpático e bom moço no início, Norman Bates não desperta suspeitas, até que o ator começa oferecer insights sobre os recessos mais ocultos da personalidade de Bates, durante seu jantar com Marion em sua sala reservada, cercado por pássaros empalhados. Não é a toa que o roteiro se permite uma das viradas mais ousadas já realizadas num suspense, para dar mais espaço ao seu desenvolvimento e nos permitir investigar mais a fundo este personagem tão fascinante.

A famosa cena do banho, por mais que você tenha visto inúmeras vezes antes de assistir o filme em si, continua impactante até hoje. Tensa, fragmentada, cheia de cortes precisos que fazem uma perfeita rima visual ao que ela própria exibe ao espectador, serve tanto para pontuar os golpes desferidos pelo criminoso, como o estado de surpresa, confusão e pânico da vítima, que em seus últimos segundos de vida, paralelamente à sua luta para sobreviver ao ataque, parece travar também uma luta interna, numa última tentativa de juntar as peças que a levaram àquele momento, na esperança de entender porque aquilo estava acontecendo com ela. Estaria sendo punida pelo crime que ela própria cometeu, e pelo qual vinha sentindo-se culpada desde o primeiro instante em que decidiu cometê-lo? É arrependimento o que vemos em seu olhar derradeiro?

Com um roteiro excelente, capaz tanto de instigar o espectador a desvendar seu mistério, como ainda promover um brilhante estudo de personagem, e um Hitchcock com total confiança em sua capacidade de potencializar o mistério da trama, Psicose ainda conta com uma das trilhas sonoras mais brilhantes e icônicas do cinema, composta por Bernard Herrmann, outro gênio.

Obrigatório para qualquer cinéfilo que se preze.

[CRÍTICA] Nada de Novo no Front

Direção: Lewis Milestone
Roteiro: Maxwell Anderson, George Abbott, Del Andrews e C. Gardner Sullivan

Elenco: Louis Wolheim (Kat Katczinsky), Lew Ayres (Paul Bäumer), John Wray (Himmelstoß), Arnold Lucy (Prof. Kantorek), Ben Alexander (Franz Kemmerich), Scott Kolk (Leer)
Duração: 145 min.
Ano: 1930

Não é a toa que Sem Novidade no Front ocupa merecidamente o 7º lugar na lista dos 10 maiores épicos do cinema. Além de ser tecnicamente impressionante, o filme é um feito de direção, roteiro, e apresenta uma das melhores reconstituições de época já realizadas, em parte pelo fato de ser produzido numa época tão próxima dos eventos retratados (a Primeira Guerra durou até 1918, apenas 12 anos antes das filmagens começarem).

Seus personagens são bem trabalhados, carismáticos, e não estão lá só para morrer e causa choque, ou uma comoção artificialmente provocada. As cenas de combates são bem montadas, a câmera acompanha os soldados através de travelings bem empregados, e a montagem é dinâmica (foca no soldado disparando a metralhadora de um lado pro outro, corta pros soldados caindo um a um acompanhando o movimento do take anterior, volta pro cara metralhando, pros soldados, e assim vai).

O roteiro é ótimo, e mantém-se coeso mesmo quando se permite retratar pequenos contos relacionados à guerra, sem que soem episódicos. A história do par de botas que passa de um dono a outro; o soldado que fica preso com um inimigo moribundo dentro de uma trincheira; o jovem que volta do campo de batalha para casa, e chega à conclusão de que não serve mais para ter uma vida normal, todos funcionam, ao mesmo tempo, de maneira independente e como parte da trama principal.

Não é um filme para aqueles que preferem uma história mais focada em grandes e violentas batalhas, embora exista sua parcela delas. Sem Novidade no Front é para quem gosta da 7ª arte como meio de refletir sobre os efeitos da guerra em soldados, e naqueles que estão do lado de fora, enxergando apenas a parte gloriosa vendida para jovens ainda em busca de sua identidade, e de seu lugar num mundo que exige mais do que realmente pode pagar a eles em retribuição.

A cena final, bela, poética, e dolorosamente triste, é a perfeita síntese da mensagem que Lewis Milestone tenta passar adiante, e a prova de que acabamos de assistir um dos grandes libelos anti-belicistas que o cinema já produziu. Um clássico completo.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

[CRÍTICA] The Troll Hunter

Direção: André Øvredal
Roteiro: André Øvredal e Håvard S. Johansen
Elenco: Otto Jespersen (Hans, o caçador de troll), Glenn Erland Tosterud (Thomas), Johanna Mørck (
Johanna), Tomas Alf Larsen (Kalle), Urmila Berg-Domaas (Malica)
Duração: 90 min.
Ano: 2010


O filme se sai relativamente bem na tentativa de criar um documentário falso. Neste ponto chega a ser melhor que A Bruxa de Blair, por exemplo. Em algumas cenas faz lembrar um Globo Repórter, com a câmera dentro do carro, filmando as estradas pelas quais passam, enquanto Hans (Otto Jespersen) desfia todo seu conhecimento a respeito das criaturas que caça.

Além do atrativo de proporcionar ao espectador o contato com uma cultura tão rica e curiosa como a norueguesa, o diretor André Ovredal ainda nos brinda com belas imagens das paisagens bucólicas e rupestres da região, enquanto ao roteiro cabe a tarefa de desmistificar os trolls, por meio de uma pseudo-ciência que encontra formas criativas de explicar os estranhos poderes e peculiaridades das fabulosas criaturas.

Otto Jespersen é muito convincente no papel do caçador de trolls. Sua postura arisca no início, e a forma como vai se abrindo aos poucos para os repórteres, revelando cada vez mais informações sobre seu trabalho, e sobre as criaturas que mata, como forma de se justificar, além da seriedade com que revela curiosidades sobre os trolls, faz com que acreditemos que aquele homem já se encontra tão acostumado e calejado por seu trabalho que, todo o encantamento se perdeu.

Infelizmente o filme tem alguns problemas de coerência. A montagem é muito fragmentada e truncada. Por um lado isto condiz com a idéia de a "trama" ser composta de uma série de trechos montados a partir de um suposto material mais extenso, conforme é explicado no texto que introduz a história, mas isto acaba atrapalhando o ritmo, que torna-se arrastado em diversos momentos, e apresenta cenas irrelevantes para o desenvolvimento da trama.

Outro problema surge quando um dos personagens morre, e os demais mal esboçam uma reação, para logo em seguida praticamente ignorarem o fato e seguirem em frente como se aquele incidente não houvesse ocorrido.

E algumas questões importantes ficam sem resposta: por que Hans é o único responsável pelo controle das criaturas? Não seria mais prudente treinar outras pessoas para abrangerem uma área maior? E como conseguem esconder a existência de um bicho de 100 metro de altura?

Ainda que tenha suas falhas, o filme diverte, fazendo uso de um formato já existente para abordar um elemento da mitologia local, e atualizá-lo para um mundo extremamente racional como é o nosso.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

[CRÍTICA] Intriga Internacional

Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Ernest Lehman
Elenco: Cary Grant (Roger O. Thornhill), Eva Marie Sant (Eve Kendall),
James Mason (Phillip Vandamm) e Martin Landall (Leonard).
Duração: 131 min.
Ano: 1959

O que torna Intriga Internacional um filme tão agradável de assistir, em primeiro lugar, é o trabalho de Cary Grant. Seu personagem é o velho conhecido sujeito comum envolvido numa situação extraordinária, mas graças ao trabalho do ator, que faz de Roger Tornhill um cara esperto e bem articulado, não demora muito para confiarmos em sua capacidade de livrar-se de qualquer enrascada, por mais complicada que ela nos pareça.

Todo o suspense e imprevisibilidade do filme não reside no fato de não sabermos se o mocinho terminará a trama vivo ou morto, mas sim em como, e se, ele chegará ao cerne do jogo kafkiano para o qual foi arrastado no início da história. Visto que estamos falando de mais uma obra do mestre do gênero, pode apostar que tudo irá se enroscar mais ainda antes de descobrirmos o que diabos está acontecendo com Roger.

Eu adoro como Hitchcock não perde tempo e parte logo para a premissa. Vemos uma rápida conversa entre Roger e sua secretária; ele entra num carro; chega num hotel onde vai se encontrar com alguns empresários; conversa um pouco com eles; sai um minuto pra enviar um telegrama; e no caminho é sequestrado pelos capangas do vilão da história. Tudo isto muito bem resolvido nos 6 primeiros minutos. Não tem como não gostar de uma introdução como esta!

Daí pra frente, exceto por uma retomada de fôlego no meio da história, quando ela é parcialmente interrompida para apresentar o interesse romântico do protagonista, a correria não pára mais.

Até aqui é o filme mais movimentado de Hitchcock que assisti, não exatamente por suas cenas de ação, mas pelo ritmo da história mesmo. Roger sai de um aparente beco sem saída para dar de cara com outro, e assim prossegue até o fim.

Impossível não comentar sobre a icônica sequência do avião. Ela inteira é excepcional, mas chamou-me a atenção especialmente todo o trabalho de direção e montagem feito antes de começar a perseguição em si. O momento em que Roger chega na encruzilhada deserta; sua longa espera, sobressaltando-se sempre que um veículo se aproxima, na expectativa de que "desta vez" será George Kaplan; e o detalhe do avião passando lá no fundo muito antes de ganhar destaque. Genial.

E como se apenas uma cena memorável não fosse o bastante, Hitchcock ainda nos presenteia com o clímax no Monte Rushmore, que é outro daqueles momentos que transformam um filme em algo maior que a vida, assim como foi grande parte de sua obra.

Intriga Internacional é mais um trabalho de direção excepcional, um verdadeiro banquete para amantes do cinema em busca daquelas iguarias raras, que ficam mais deliciosas a cada nova mordiscada.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

[CRÍTICA] Janela Indiscreta

Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: John Michael Hayes
Elenco: James Stewart (L. B. 'Jeff' Jeffries), Grace Kelly (Lisa Carol Fremont), Wendell Corey (Detetive Thomas J. Doyle) e Thelma Ritter (Stella).
Duração: 112 min.
Ano: 1954


Hitchcock é um verdadeiro maestro regendo uma orquestra de vidas, sem que perca o controle sobre nenhuma delas, nesta que é uma de suas maiores realizações.

Vale a pena pesquisar um pouco sobre a história por trás da produção. O filme foi inteiro filmado em um só set, que reproduz com perfeição uma vizinhança inteira. Muitos dos apartamentos vistos no filme são totalmente funcionais, com água e luz próprias. Além disto, a maior parte da história foi filmada do apartamento de Jeffries, com Hitchcock comandando os atores que interpretam seus vizinhos através de fones de ouvido pintados com a cor da pele.

Um dos maiores acertos de Hitchcock é justamente a decisão de ficar ao lado de Jeffries durante quase toda a história, conferindo a ela uma verossimilhança poucas vezes atingida. Outro acerto é o excepcional design de som, que explora ao máximo os sons diegéticos, transformando todo o filme numa experiência imersiva que não perdeu nem um pouco do impacto sobre o expectador quase seis décadas depois.

Mas é na condução das subtramas que se desenrolam diante da janela de Jeffries que Hitchcock, novamente, faz por merecer o título de mestre. O próprio conceito de janelas como forma de navegar pelas inúmeras subtramas, além de brilhante, é uma das prováveis fontes de inspiração dos primeiros programadores que imaginaram uma interface gráfica baseada neste elemento tão comum ao nosso cotidiano que, anos depois, daria origem ao sistema operacional Windows. E Hitchcock demonstra controle pleno ao fluir de um para outro plot, e entrelaçá-los, conduzindo com enorme inteligência as ressonâncias de um sobre o outro, num caos ordenado de fazer qualquer cinéfilo ficar de olhos marejados com tamanho virtuosismo.

Contando um elenco muito bem afinado, talvez os maiores destaques, além de, obviamente, James Stewart e Grace Kelly, sejam Thelma Ritter, cuja enfermeira Stella ganha alguns dos melhores e mais divertidos diálogos; e a Srta. Coração Solitário, interpretada com sensibilidade por Judith Evelyn, que consegue comover, mesmo aparecendo tão pouco, além de protagonizar um dos momentos mais belos e poéticos do filme, no qual o destino de sua personagem é afetado por um de seus vizinhos.

Apesar de um pequeno deslize no tumultuado clímax, em que duas cenas têm a velocidade artificialmente acelerada, denunciando uma pequena falha de Hitchcock na pós-produção, este em nada compromete o resultado final, que facilmente figura entre uma das muitas obras-primas do diretor.

Janela Indiscreta é uma das mais engenhosas produções da história do cinema, mais do que obrigatória para qualquer cinéfilo que se preze. Nunca é tarde para assistir essa preciosidade cinematográfica.