segunda-feira, 1 de agosto de 2011

[CRÍTICA] Janela Indiscreta

Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: John Michael Hayes
Elenco: James Stewart (L. B. 'Jeff' Jeffries), Grace Kelly (Lisa Carol Fremont), Wendell Corey (Detetive Thomas J. Doyle) e Thelma Ritter (Stella).
Duração: 112 min.
Ano: 1954


Hitchcock é um verdadeiro maestro regendo uma orquestra de vidas, sem que perca o controle sobre nenhuma delas, nesta que é uma de suas maiores realizações.

Vale a pena pesquisar um pouco sobre a história por trás da produção. O filme foi inteiro filmado em um só set, que reproduz com perfeição uma vizinhança inteira. Muitos dos apartamentos vistos no filme são totalmente funcionais, com água e luz próprias. Além disto, a maior parte da história foi filmada do apartamento de Jeffries, com Hitchcock comandando os atores que interpretam seus vizinhos através de fones de ouvido pintados com a cor da pele.

Um dos maiores acertos de Hitchcock é justamente a decisão de ficar ao lado de Jeffries durante quase toda a história, conferindo a ela uma verossimilhança poucas vezes atingida. Outro acerto é o excepcional design de som, que explora ao máximo os sons diegéticos, transformando todo o filme numa experiência imersiva que não perdeu nem um pouco do impacto sobre o expectador quase seis décadas depois.

Mas é na condução das subtramas que se desenrolam diante da janela de Jeffries que Hitchcock, novamente, faz por merecer o título de mestre. O próprio conceito de janelas como forma de navegar pelas inúmeras subtramas, além de brilhante, é uma das prováveis fontes de inspiração dos primeiros programadores que imaginaram uma interface gráfica baseada neste elemento tão comum ao nosso cotidiano que, anos depois, daria origem ao sistema operacional Windows. E Hitchcock demonstra controle pleno ao fluir de um para outro plot, e entrelaçá-los, conduzindo com enorme inteligência as ressonâncias de um sobre o outro, num caos ordenado de fazer qualquer cinéfilo ficar de olhos marejados com tamanho virtuosismo.

Contando um elenco muito bem afinado, talvez os maiores destaques, além de, obviamente, James Stewart e Grace Kelly, sejam Thelma Ritter, cuja enfermeira Stella ganha alguns dos melhores e mais divertidos diálogos; e a Srta. Coração Solitário, interpretada com sensibilidade por Judith Evelyn, que consegue comover, mesmo aparecendo tão pouco, além de protagonizar um dos momentos mais belos e poéticos do filme, no qual o destino de sua personagem é afetado por um de seus vizinhos.

Apesar de um pequeno deslize no tumultuado clímax, em que duas cenas têm a velocidade artificialmente acelerada, denunciando uma pequena falha de Hitchcock na pós-produção, este em nada compromete o resultado final, que facilmente figura entre uma das muitas obras-primas do diretor.

Janela Indiscreta é uma das mais engenhosas produções da história do cinema, mais do que obrigatória para qualquer cinéfilo que se preze. Nunca é tarde para assistir essa preciosidade cinematográfica.

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