quarta-feira, 31 de agosto de 2011

[CRÍTICA] Operação França

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Título original: The French Connection
Diretor: William Friedkin
Roteiro: Ernest Tidyman
Elenco: Gene Hackman (Jimmy "Popeye" Doyle), Roy Scheider (Buddy Russo), Fernando Rey (Alain Charnier), Tony Lo Bianco (Sal Boca), Marcel Bozzuffi (Pierre Nicoli), Frédéric de Pasquale (Devereaux), Bill Hickman (Mulderig)
Ano: 1971
Duração: 104 min.


William Friedkin é um dos grandes responsáveis pela disseminação da estética “câmera na mão” graças a Operação França. Mas, ao contrário da maioria dos diretores que empregam a técnica atualmente, não há tremedeiras epilépticas, mas um uso inteligente das câmeras, que transmite a inquietação e urgência das operações da dupla de policiais vivida por Gene Hackman e Roy Scheider.

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"Now I'm gonna bust your ass for those three bags and I'm gonna nail you for picking your feet in Poughkeepsie."

Também chama atenção o uso da fotografia de cores lavadas, alto contraste entre luz e sombra, e granulação grossa e “ruidosa”, casando perfeitamente com a sujeira e a criminalidade encontradas nas ruas de Nova York enfocadas pela trama. Aliada ao estilo “improvisado” de filmagem, a fotografia dá ao filme um tom documental, que remete à fonte original da história, baseada em um caso real.

No elenco quem se destaca é Gene Hackman, muito à vontade no papel de Jimmy “Popeye” Doyle, o policial mulherengo, beberrão, excêntrico, disposto a distorcer as regras a seu favor para resolver seus casos. Quem já assistiu a excepcional série The Wire, produção que certamente foi muito influenciada pelo filme em seu retrato das dificuldades enfrentadas pelos policiais no combate ao tráfico, encontrará no personagem a possível fonte de inspiração para Jimmy McNulty. Por outro lado, Roy Scheider, mesmo competente em sua atuação, acaba um tanto apagado pela interpretação de Hackman, servindo apenas como contraponto do primeiro, ao compôr a clássica dupla de tira bom e tira mau (uma idéia usada à exaustão nas décadas seguintes).

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A "sujeira" das ruas de Nova York

Apoiado num roteiro muito bem construído, que a todo momento gera novos obstáculos aos personagens, renovando o interesse do espectador pela história, Friedkin acerta a mão tornando dinâmicas as operações de vigília que dominam a primeira metade do filme, sempre bem coordenadas por meio da ótima montagem de Gerald B. Greenberg.

Outro bom exemplo do união perfeita entre roteiro, direção, montagem e atuações é a seqüência em que Popeye segue Charnier (Fernando Rey) no metrô, onde o segundo aos poucos passa a suspeitar de que está sendo seguido, e começa a inventar desculpas para entrar e sair do trem, forçando o policial a entrar no jogo do francês.

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Pique-pega no metrô

Mas falar da direção de Operação França sem comentar a climática perseguição entre o carro e o trem é inevitável. Toda seqüência é uma verdadeira aula de narrativa cinematográfica para diretores de filmes de ação. Começa com o tiroteio entre Jimmy e Pierre (Marcel Bozzuffi), que tenta matá-lo do alto de um prédio, e daí pra frente segue num crescendo que termina num dos melhores trabalhos de montagem já realizados. Friedkin e Greenberg dosam a tensão, alternando entre a corrida desesperada de Popeye, que desvia freneticamente de carros sob o trilho do trem; e o nervosismo do criminoso francês, que além de ser perseguido por Popeye, é encurralado por policiais dentro do trem. Além da direção e montagem brilhantes, a ausência de trilha sonora tornou a ação mais realista e impactante.

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Operação França merece um lugar em qualquer lista dos melhores filmes de ação de todos os tempos. Com um roteiro inteligente, que prende a atenção do expectador, um diretor que entende a fundo os mecanismos e artifícios do gênero, excelente montagem, fotografia e atuações, é um filme completo e indispensável para quem gosta de uma boa dose de adrenalina cinematográfica.


Nota: 4,5 de 5

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