quinta-feira, 25 de agosto de 2011

[CRÍTICA] O Planeta dos Macacos

25-08-2011-planet-of-the-apes

Título original: Planet of the Apes
Diretor: Franklin J. Schaffner
Roteiro: Michael Wilson e Rod Serling
Elenco: Charlton Heston (Coronel George Taylor), Roddy McDowall (Cornelius), Kim Hunter (Dra. Zira), Maurice Evans (Dr. Zaius - Ministro da Ciência), James Whitmore (Presidente da Assembléia), James Daly (Dr. Honorius), Linda Harrison (Nova)
Ano: 1968
Duração: 112 min.


Às vésperas da estréia de Planeta dos Macacos - A Origem, fui assistir o clássico de 1968 pela primeira vez no último domingo. Mesmo sendo um filme tão conhecido e cultuado nos dias de hoje (a ponto de lançarem DVDs cuja ilustração da capa já entrega o “surpreendente” final, num verdadeiro desrespeito com quem ainda não conhece a obra), a produção possui qualidades que ainda se destacam, independente das décadas passadas desde o seu lançamento.


Um dos detalhes que mais me agradou foi a apresentação cuidadosa do cenário. A nave dos astronautas cai, e passamos um bom tempo andando com eles por regiões desérticas, galgando montanhas, descobrindo um indício de vida aqui, pra mais tarde encontrar os espantalhos que indicam a presença de vida inteligente, já nos preparando para a primeira aparição de seres humanos. Neste primeiro ato o uso de locações naturais, e as bem empregadas panorâmicas de Franklin J. Schaffner, tornam a experiência imersiva e realista, familiarizando-nos com a geografia do local.

25-08-2011-planet-of-the-apes-01-p

Os trinta minutos iniciais são fundamentais para envolver o espectador, que descobre sem pressa cada elemento que compõe aquele mundo, enquanto é preparado para o primeiro vislumbre dos macacos inteligentes. E mesmo depois de sua primeira aparição, ainda leva um tempo até que um deles diga alguma coisa. Em suma, é um suspense de excelente qualidade que já o diferencia de boa parte dos filmes de ficção científica produzidos até aquele período (mesmo entre os atuais são poucos os que se preocupam assim com a ambientação).

Quando os macacos entram em cena, grande parte dos diálogos presentes no segundo ato ocorre entre eles, o que comprova a genialidade da maquiagem criada por John Chambers. Suas máscaras refletem as expressões faciais dos atores, permitindo que Taylor fique sem voz durante boa parte do filme sem prejuízos para o desenrolar da história. Assim, o que inicialmente representou um desafio para a equipe de maquiadores comandada por Chambers, acabou sendo fundamental para tornar seu trabalho crível aos olhos do espectador, que logo se acostuma com os símios inteligentes.

25-08-2011-planet-of-the-apes-02-p

Outra grande realização é a arquitetura da cidade dos macacos, uma mistura de primitivismo e modernidade baseada nos trabalhos de Antoni Gaudi (veja um exemplo aqui). A prisão onde Taylor passa boa parte da história, o tribunal onde é julgado, o templo e o museu de história natural que ele invade durante sua fuga, todos os cenários sugerem uma cultura exótica, que causa estranheza e desorientação ao astronauta.

25-08-2011-planet-of-the-apes-03-p

Já a atuação de Charlton Heston incomoda em vários momentos por seus excessos. Suas cenas dramáticas beiram o melodrama, suas explosões de raiva são retumbantes, e seu personagem gera antipatia quando começa a mostrar-se confiante demais, se achando o dono da situação, e mais esperto que seus captores e aliados símios, de quem passa a abusar distribuindo ordens. Reconheço que é uma característica do ator, que funcionou muito bem em Ben-Hur, por exemplo, mas que aqui tem o efeito contrário ao objetivo de torná-lo o herói por quem torcemos durante o filme.

25-08-2011-planet-of-the-apes-05-p
"Take your stinking paws off me, you damned dirty ape!"

Ainda que não seja perfeito, é inegável o valor de O Planeta dos Macacos no universo da ficção científica. Partindo de uma premissa que poderia facilmente render uma produção trash, seu roteiro é inteligente e bem construído, explorando os conceitos e idéias que sustentam aquele mundo de maneira séria, além de gerar discussões sobre uso e abuso da ciência, o tratamento que reservamos aos animais, e a arrogância do ser humano em pensar que é uma espécie insubstituível num planeta regido por leis naturais que incentivam a adaptação e evolução de todos os seres vivos que o habitam. Este é o papel da boa ficção científica, e Franklin J. Schaffner e sua equipe o cumprem com louvor.


Nota 4 de 5

Nenhum comentário:

Postar um comentário