sexta-feira, 19 de agosto de 2011

[CRÍTICA] Super 8


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Diretor: J. J. Abrams
Roteiro: J. J. Abrams
Elenco: Joel Courtney (Joe Lamb), Elle Fanning (Alice Dainard), Riley Griffiths (Charles), Ryan Lee (IX) (Cary), Gabriel Basso (Martin), Kyle Chandler (Jackson Lamb), Ron Eldard (Louis Dainard), Amanda Michalka (Jen Kaznyk), Zach Mills (Preston), Beau Knapp (Breen), Noah Emmerich (Nelec), Joel McKinnon Miller (Mr. Kaznyk), Jessica Tuck (Mrs. Kaznyk), Jade Griffiths (Benji Kaznyk), Britt Flatmo (Peg Kaznyk), Glynn Turman (Dr. Woodward), Richard T. Jones (Overmyer), Amanda Foreman (Lydia Connors - Ch 14 News Anchor), David Gallagher (Donny), Brett Rice (Sheriff Pruitt), Bruce Greenwood (Cooper), Dale Dickey (Edie), Jack Axelrod (Mr. Blakely), Dan Castellaneta (Izzy)
Ano: 2011
Duração: 112 min.

Super 8, segundo o próprio J. J. Abrams definiu numa entrevista, é como aquelas brincadeiras que fazemos quando criança, em que imaginamos nossa cidade sendo invadida por alienígenas ou zumbis, e tudo acaba sendo uma desculpa pra impressionarmos a menina por quem somos apaixonados com algum ato heróico. Não é à toa que a idade dos garotos bate com a que Abrams tinha na época em que a história se passa (1979). Joe (Joel Courtney) é a versão alternativa de Abrams num passado que jamais existiu, mas que ele desejou muito que tivesse acontecido.


Não podemos acusar J. J. Abrams de falta de originalidade. Não foi intenção dele ser maior que seu mestre, Steven Spielberg, ou mesmo igualar-se a ele. O diretor quis, acima de tudo, ser respeitoso à obra e ao legado de Spielberg, empregando tudo que aprendeu através de seus filmes para recriar seu sonho infantil.



Spielberg, por sua vez, sendo o competente profissional que é, reconheceu o talento de Abrams, e, acima de tudo, foi cativado por seu entusiasmo, e produziu sua aventura. Abrams, sem hesitar, fez o possível para retornar à sua infância, reunir seu grupo de amigos, e registrar, com suas câmeras, um fato extraordinário (no qual direção, montagem, efeitos especiais e mixagem sonora alcançam seu ápice, tornando o evento o mais impactante de todos), e envolvê-los na maior aventura de suas vidas, onde a amizade e o amor serão a chave para solucionar todos os seus problemas.

A trama não busca originalidade, mas sim criar uma aventura à moda antiga, emulando um tempo mais simples, em que as relações humanas eram menos filtradas por avanços tecnológicos, e não se exigia da história composições psicologicamente profundas, nem realismo e embasamento científico para agradar um público mais exigente.

Os dramas e conflitos retratados são “clichês”, mas cabem na proposta despretensiosa do longa (assim como o filme noir com zumbis produzido pelos garotos, que preza mais a diversão e a espontaneidade criativa, do que a qualidade propriamente dita).

Mesmo esteriotipados, os personagens são bem definidos, o que facilita a tarefa de diferenciá-los e afeiçoarmos a ele: Joe é magro, sério, tímido e humilde; Charles é gordo, extrovertido, cheio de vivacidade e inquietação criativa; Martin (Gabriel Basso) é o mais medroso da turma, e ironicamente interpreta o herói do filme que os garotos produzem; e Cary (Ryan Lee) é dentuço, usa aparelho, adora explodir coisas, e veste uma jaqueta larga faz lembrar o Data de Os Goonies (mais uma homenagem de Abrams às produções da Amblin).

Já Elle Fanning interpreta a personagem mais dramática da história. Alice age e se veste como uma garota mais velha do que realmente é, numa tentativa de mostrar-se mais independente de seu pai, embora diversas vezes exiba um olhar inseguro e choroso, que reflete o medo de perdê-lo, como já aconteceu com sua mãe.

A dinâmica entre as crianças é muito bem trabalhada, e se adequada à ambientação. Os garotos visitam uns aos outros de bicicleta, uma escolha intencional de J. J. Abrams, que é tanto uma homenagem a um dos símbolos do filme E. T., como um meio de reforçar a idéia de um período em que havia mais contato humano, e não existiam “paredes digitais” intermediando conversas de amigos.

Já o foco na relação pai e filho (a) não apresenta o mesmo resultado. Por um lado a convivência entre Joe e seu pai (Kyle Chandler) é bem desenvolvida. Jackson, a fim de livrar-se da difícil tarefa de cuidar de um pré-adolescente abalado pela morte da mãe, tenta forçá-lo a um amadurecimento para o qual não está preparado, que é um bom mote para ser explorado numa história que fala muito de aproveitar o que ainda resta da infância para se divertir com os amigos. Enquanto isto a relação entre Alice e seu pai (Ron Eldard) carece de um tratamento melhor. Seu desfecho, especialmente, é pouco satisfatório, e um tanto artificial, mesmo sendo notável o esforço de Fanning em conferir dramaticidade ao mesmo, procurando compensar a irregularidade da interpretação de Eldard.

Tecnicamente a direção de Abrams apresenta algumas escolhas que se destacam, a começar pela forma econômica com que nos informa sobre a morte da mãe de Joe, logo na cena de abertura, e o bom emprego de rimas visuais no início e no final do filme, em que um mesmo objeto é focado em ocasiões diferentes, ganhando significados distintos.

Notável, ainda, é a trilha sonora composta por Michael Giacchino, que remete a notas e acordes de John Williams, em outra homenagem respeitosa e discreta.

Quanto à falta de capricho e originalidade na concepção visual do “monstro”, ela pareceu-me intencional, especialmente por remeter diretamente ao famoso caso de Tubarão, em que Spielberg ocultou a criatura pelo máximo de tempo possível, carregando no suspense ao explorar a ausência de informações visuais.

É importante também encarar a criatura mais como um meio do que um fim. Além de representar o velho medo do desconhecido e das mudanças que devem ser feitas, ela é o ponto de virada das relações afetivas daquelas pessoas. É através de todo caos gerado pelo “monstro” que alguns deles amadurecem, outros passam a aceitar suas perdas, descobrem sua própria sexualidade, alcançam redenção, são perdoados, entram em acordo e reparam erros do passado.

No final, há uma tentativa de humanizar a criatura, que pode soar um tanto forçada para alguns, mas que eu encarei como um meio de mostrar que, por maior que pareça um problema, e por mais perigo que ele represente, na maioria das vezes sua solução é mais simples do que imaginávamos. É piegas? É clichê? É mais um daqueles sentimentalismos tão criticados nos filmes familiares de Spielberg? Sim, mas trama termina exatamente como deveria, focada nas relações humanas, sem mergulhar num didatismo científico e frio. Vence a inocência infantil, e sua busca incessante por diversão, ganhando o direito de durar até que chegue a hora certa de crescer.

Num mundo tão cheio de racionalidade e produções burocráticas voltadas para crianças, Super 8 se sobressai. Conseguiu me cativar, fez com que eu me sentisse parte daquela turma por duas horas, e com que eu torcesse pelo sucesso dos personagens. Não dê bola pra quem vem tentando detratar J.J.Abrams por não ser o novo Spielberg, pois esta não era a intenção dele. Seu objetivo era fazer um trabalho com o coração, e isto ele conseguiu.Foi bom participar da brincadeira dele, e aguardarei ansiosamente a próxima.


Nota 4 de 5

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