quinta-feira, 25 de agosto de 2011

[CRÍTICA] Sanjuro

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Título original: Tsubaki Sanjûrô
Diretor: Akira Kurosawa
Roteiro: Ryûzô Kikushima, Hideo Oguni e Akira Kurosawa
Elenco: Toshirô Mifune (Sanjurô Tsubaki, O Samurai), Tatsuya Nakadai (Hanbei Muroto), Keiju Kobayashi (O Espião), Yûzô Kayama (Iori Izaka), Reiko Dan (Chidori, filha de Mutsuta), Takashi Shimura (Kurofuji), Kamatari Fujiwara (Takebayashi), Takako Irie (esposa de Mutsuta), Masao Shimizu (Kikui), Yûnosuke Itô (Mutsuta, o Camareiro)
Ano: 1962
Duração: 96 min.


Nesta continuação de Yojimbo (crítica aqui) o que chama a atenção logo no início é a rápida introdução, em que a premissa é apresentada de maneira súbita, representando um desafio ao espectador, que demora algum tempo até entender quem é quem, e qual exatamente é o problema enfrentado pelo grupo inicial de personagens.


Mas não demora muito para entendermos que o tema abordado permanece atual: o combate à corrupção. Ver isto num filme em que o governo corrupto é combatido na base da espada já ganha alguns pontos a favor.

Com um ritmo mais ágil que o de seu predecessor, Sanjuro conta com uma trama mais leve, e privilegia ainda mais a capacidade do protagonista em traçar estratégicas, e enxergar as falhas nos planos que seus aliados lhe apresentam. Por envolver um adversário menos desafiador que o visto em Yojimbo, esta continuação não possui a mesma urgência presente no capítulo anterior, e Sanjuro passa por menos apuros. Mas isto não chega a comprometer o resultado final, que ainda é muito satisfatório.


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Equilíbrio e harmonia de composições

As lutas são empolgantes, com o protagonista chegando a enfrentar 12 adversários de uma só vez, e Toshiro Mifune brilha novamente como o samurai desleixado, cuja aparência descuidada esconde o brilhante estrategista e o exímio observador que é, além de não denunciar sua habilidade como espadachim.

Sanjuro continua a figura curiosa e carismática vista em Yojimbo. Sempre aparece afastado do grupo que auxilia, mesmo que há alguns passos de distância, para deixar bem claro que é apenas um forasteiro ajudando pessoas que ele julga honestas, uma atitude que condiz com seu espírito errante, preferindo não estabelecer vínculos afetivos com nenhum povoado ou local onde intervém. Além disto sua maneira de vestir e o descuido com a aparência (barba por fazer, cabelo grande e desgrenhado, no lugar da cabeça raspada que era o visual tradicional dos samurais na época) acusam uma modéstia que ele procura esconder desdenhando da inteligência de seus aliados e adversários, e uma vida dedicada exclusivamente ao caminho do guerreiro, sem preocupar-se com qualquer convenção social.

Tecnicamente o filme é mais um daqueles deleites visuais produzidos por Akira Kurosawa. A fotografia em preto e branco é excepcional, com luz e sombra perfeitamente equilibrados para que não se perca nenhum detalhe dos cenários, figurinos, expressões e movimentos dos atores. Mesmo as cenas noturnas não deixam o espectador “no escuro”. Ainda que nestas últimas a iluminação pareça artificial em alguns momentos, Kurosawa privilegia mais um aperfeiçoamento do real, em detrimento do apego a uma realidade naturalista, numa estética que combina com o tom levemente fabuloso da história.

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Widescreen totalmente aproveitado

E, mais uma vez, Kurosawa esmera-se compondo enquadramentos precisos e harmônicos, nos quais há utilização total do espaço oferecido pelo widescreen. É sempre um prazer ver este cuidado num filme despretensioso como Sanjuro, algo que faz compensar ainda mais a experiência de assisti-lo.

Mesmo sendo uma obra menor do diretor, ele não abre mão de fazer verdadeiras poesias visuais, seja na bela estratégia criada pela esposa de Mutsuta para que Sanjuro avise seus aliados sobre a hora certa de atacar; ou na linda e singela cena em que uma flor de camélia cai de seu galho logo após um samurai cair de joelhos ao sentir-se derrotado pelos adversários que o enganaram.

Apresentando em seu desfecho o combate mais impactante do filme, que contrasta de maneira gritante com todos os demais apresentados na trama, Kurosawa utiliza com maestria o silêncio e a ausência de movimentos, para tornar ainda mais chocante o golpe final, cujo resultado também funciona como reflexo do conflito interno que Sanjuro enfrenta no decorrer da trama.

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O poder do silêncio e da inação

Impecavelmente dirigido e fotografado, e trazendo mais uma ótima parceria entre Kurosawa e Mifune, Sanjuro merece a atenção de quem admira ver arte e entretenimento caminhando juntos.


Nota: 4 de 5

Um comentário:

  1. Muito legal Rodrigo.

    Duas sugestões:

    a) eu não estou conseguindo ver as imagens postadas do Photobucket, então pode ser um erro que outros leitores poderão ter.

    b) é mais limpa a página inicial que você adiciona o recurso de Quebra com o "leia mais".

    No mais, eu acho que não se aprender a escrever, a pôr no papel suas idéias e opiniões, a argumentar. Pratica-se, e com o tempo vai se ganhando mais confiança, mais riqueza. E eu, que não sou ninguém nesse mundo de BLOGs, achei muito legal o seu e diria que está no caminho certo :)

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