quarta-feira, 10 de agosto de 2011

[CRÍTICA] Cantando na Chuva

Direção: Gene Kelly e Stanley Donen
Roteiro: Adolph Green e Betty Comden
Elenco:
Gene Kelly (Don Lockwood), Donald O'Connor (Cosmo Brown), Debbie Reynolds (Kathy Selden) e Jean Hagen (Lina Lamont)
Duração: 103 min.
Ano:
1952

O maior mérito de Cantando na Chuva é reforçar o valor do musical como forma de contar uma história. O primeiro grande acerto do roteiro e da direção foi apresentar Don Lockwood (Gene Kelly), logo na introdução, contando um resumo da ascensão de sua carreira, partindo da época em que era um mero palhaço de pantomimas, até chegar a astro de filmes mudos, por meio de uma narrativa convencional. Com isto criou-se um contraste essencial entre esta e a versão musicada da mesma história, vista mais adiante no filme, ilustrando muito bem as diferenças de formato, e o modo como cada um lida com fatos e elementos dramáticos e cômicos de maneiras distintas.

É importante, para que um musical nos ajude a aceitar sua lógica interna, que seus personagens e situações que se adequem a ela, algo que o filme faz de maneira exemplar. Don, Cosmo, Kathy e Lina, cada um à sua maneira, são caricatos na medida certa. Isto, aliado às constantes (e ótimas) tiradas de humor, contribui para estabelecer um universo próprio, em que aceitamos, por exemplo, que um amigo comece um número musical no meio de uma conversa com outro, dançando e fazendo malabarismos, sem que isto incomode outras pessoas presentes no cenário, algumas delas, inclusive, participando do número.
Cantando na Chuva é divertido, leve, consegue mostrar a que veio, tirando ótimo proveito no formato para satirizar episódios curiosos dos bastidores de Hollywood, e prestando um louvável serviço a jovens amantes do cinema, ao pô-los a par das dificuldades enfrentadas num dos momentos de maior importância da história do cinema, retirando dele uma comédia de primeira qualidade com base em situações que, vistas atualmente, beiram o absurdo.
Além disto, é extasiante assistir um filme em que temos um Gene Kelly transbordando simpatia em elaborados e belos números musicais. A seqüência que dá nome ao filme entra no momento certo, ilustrando com perfeição o estado de espírito de Don após seu surto criativo. E quando passamos a temer que o auge do filme já se foi, ganhamos de brinde a belíssima dança de Gene Kelly com Cyd Charisse, numa atmosfera de sonho, envoltos num véu esvoaçante, que é plasticamente uma das idéias mais inspiradas da direção, pela simplicidade de sua execução.
Um clássico cuja maior realização é eliminar parte do preconceito que existe por musicais. Se você não começar a ver outros filmes do gênero sob um novo olhar, dificilmente passará a apreciá-los.

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