sábado, 30 de julho de 2011

[CRÍTICA] Um Corpo Que Cai

Direção: Alfred Hitchcock
Roteiro: Alec Coppel e Samuel A. Taylor
Elenco: James Stewart (John "Scotie" Ferguson), Kim Novak (Madeleine Elster / Judy Barton), Tom Helmore (Gavin Elster)
Duração: 128 min.
Ano: 1958


Um Corpo Que Cai é daqueles filmes que provam que determinadas obras só podem ser plenamente apreciadas quando se tem um senso crítico mais apurado. Pelo menos este foi o meu caso. Assisti o filme há alguns anos atrás, e na ocasião o achei muito monótono, extenso demais, e apesar de ter gostado da história, considerei a produção superestimada pelos admiradores de Hitchcock.

Hoje resolvi revê-lo, e a experiência foi outra. O filme cresceu muito no meu conceito, assim como meu respeito e admiração pelo diretor.

Começa pelo fato de Hitchcock ter bom gosto, a ponto de atiçar a curiosidade do expectador logo na abertura estilosa e enigmática, seguida pela perseguição na qual somos introduzidos ao protagonista, e é explicada a origem de sua fobia.

Hitchcock é paciente na apresentação dos personagens, seus dramas, e na construção da premissa de toda a trama. Logo em seguida começa a longa investigação de John, segmento este que talvez seja um dos motivos que afastam quem prefere histórias com um ritmo mais "dinâmico". Foi o que aconteceu comigo na primeira vez que assisti o filme.

Acontece que grande parte do brilhantismo de Hitchcock se evidencia nas perseguições de John a Madeleine. Todo o cuidado com que apresenta os detalhes que ligam a personagem à sua antepassada, dentro do museu. A parte em que ela visita o túmulo de sua bisavó, quando a fotografia fica enevoada, sugerindo a sobreposição da realidade por uma dimensão além-túmulo. E o turbulento instante em que o casal se entrega a seus sentimentos, e se beijam diante de um mar que oscila entre o revolto e o plácido, ilustrando o estado psicológico de ambos.

Em suma, Um Corpo Que Cai não é um suspense para qualquer espectador. Exige muita paciência, e muita capacidade de observação e interpretação para extrair de cada cena o significado incutido pela direção extremamente precisa de Hitchcock, que usa cada técnica a favor da história, desde o conhecido zoom out e track in simulando a vertigem de John, até seu sonho delirante, que através de efeitos especiais econômicos são bastante eficazes em retratar a paisagem mental do personagem no momento em que se encontra.

A trilha sonora de Bernard Herrmann é excelente, e essencial para enriquecer o clima de mistério da trama, mas acredito que o filme não seria prejudicado se ela deixasse de ser tão intrusiva em alguns pontos da história. O tema romântico do casal, por exemplo, torna-se repetitivo e redundante depois de um tempo, especialmente no terço final da história, quando passar a ser usado com muita freqüência.

James Stewart e Kim Novak fazem um bom trabalho, especialmente o primeiro, que retrata bem as mudanças por que o personagem passa depois de um dos pontos de virada da trama. Já a atriz apresenta uma atuação irregular, por vezes é inexpressiva, especialmente na primeira parte da história, algo que acaba por corrigir na metade final do filme.

Em suma, Um Corpo Que Cai é uma de suas maiores realizações de um diretor no auge do domínio de suas técnicas, especialmente por empregá-las a fim de torná-lo passível de múltiplas interpretações e rico em significados. É um filme que merece ser revisitado de tempos em tempos pelo que ele esconde em detalhes que podem passar despercebidos numa primeira sessão.

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