terça-feira, 19 de julho de 2011

[CRÍTICA] El Otro

Título Original: El Otro
Direção: Ariel Rotter
Elenco: Julio Chávez (Juan Desouza / Manuel Salazar / Emilio Branelli / Lucio Morales), María Onetto (Recepcionista do Hotel), María Ucedo (mulher entre rios), Inés Molina (Claudia, a mulher), Arturo Goetz (tabelião), Osvaldo Bonet (Padre de Juan)
Ano: 2007
Duração: 83 minutos


Em El Otro o diretor Ariel Rotter cria uma representação sensorial e poética da solidão, não como um estado de espírito a ser temido, mas como uma necessidade que muitos de nós temos em determinados momentos de nossa vida, quando é preciso que nos afastemos dela a fim de enxergá-la sob uma nova perspectiva.

Na trama acompanhamos Juan Desouza, um homem que antes mesmo de se fazer presente na tela, já demonstra o carinho que tem pela namorada enquanto correm os créditos iniciais. Carinho este também presente no cuidado com que trata o pai idoso, ao ajudá-lo a tomar banho. E apesar da vida pacata que leva, os minutos iniciais já apresentam um ruído de fundo que gera um leve desconforto. Não demoramos muito para descobrir que sua causa é a rotina à qual Juan está preso.

É notável a forma como Rotter passa essa sensação de peso que a mesmice tem sobre o indivíduo, mesmo que sequer conheçamos a vida pregressa de Juan, tudo graças a uma cuidadosa montagem e, o mais importante, à ausência de trilha sonora.

El Otro apoia-se quase inteiramente nas sensações que transmite ao expectador por intermédio dos sons ambientes, como pássaros cantando, o roçar um tecido na pele, a respiração de Juan quando encontra-se sozinho em um lugar onde o silêncio impera. O design de som é espetacular, captando cada pequeno ruído que auxilie na criação de uma atmosfera imersiva para que o espectador sinta-se no lugar de Juan.

Ao lado do protagonista vamos descobrindo indícios de uma angústia e melancolia que ele expressa em olhares compassivos direcionados a idosos que o fazem lembrar do pai, que se encontra na reta final da vida, e o põe diante da eminência cada vez maior de sua própria mortalidade. Isto desperta nele uma vontade de romper consigo mesmo e ir por caminhos imprevistos, mesmo que eles o levem apenas a perseguir uma desconhecida pelas ruas de uma cidade que não é a dele, dormir ao relento, ou trepar numa árvore para comer frutas enquanto sente o frescor do vento matinal no rosto, e a paz que o invade apenas por dar vazão à sua espontaneidade.

Ariel Rotter cria uma experiência mais sensorial do que dramática, e tem ao seu lado o talento de Julio Chávez, cuja atuação é ao mesmo tempo discreta e rica em sensibilidade e sutileza.

O plano final é belíssimo em sua simplicidade, e som que acompanha os créditos finais demonstra a criatividade e a inteligência da direção de Ariel Rotter, que tira proveito de cada elemento deste longa excepcional.

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