segunda-feira, 18 de julho de 2011

[CRÍTICA] Harry Potter e As Relíquias da Morte - Parte 2

ATENÇÃO: há alguns SPOILERS para quem não assistiu o filme.

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Direção: David Yates
Roteiro: Steve Kloves
Elenco: Daniel Radcliffe (Harry Potter), Emma Watson (Hermione Granger), Rupert Grint (Ron Weasley), Ralph Fiennes (Lord Voldemort), Alan Rickman (Severus Snape), Helena Bonham Carter (Bellatrix Lestrange), Matthew Lewis (Neville Longbottom), Evanna Lynch (Luna Lovegood)
Duração: 130 min.
Ano: 2011


Com um começo tumultuado, movido a muita correria, destruição, e mortes off-screen de alguns personagens que tiveram sua importância anteriormente na série, este último capítulo de Harry Potter cumpre bem a tarefa de transpôr para a telona todo o caos e desordem que se instalam no maior conflito de bruxos já retratado na série e, arrisco dizer, na história do cinema.

É quase impossível não relacionar a grande batalha que ocorre em Hogwarts, aos combates épicos que marcaram o capítulo final da trilogia "O Senhor dos Anéis". Tem de tudo, desde grandes massas humanas se chocando, até trolls gigantes tocando o terror na multidão de alunos e professores lutando lado a lado desesperadamente. Tudo impressionante e visualmente impactante, mas é justamente aí que reside a maioria dos problemas.

Na maior parte do filme David Yates dirige a história com certo distanciamento, e em vários momentos pode-se acusá-lo de uma frieza que compromete o choque emocional que diversas cenas tinham o potencial de exibir.

Personagens que conquistaram a simpatia do público ao longo da série se despedem sem ganharem sequer uma morte digna de ser exibida, e não há toda a preocupação que o diretor teve no capítulo anterior em mostrar a maneira como protagonistas e coadjuvantes estão sendo afetados por toda a tragédia que os cerca. Neste ponto a direção de David Yates decepciona por ser quase inteiramente burocrática.

Apesar das falhas, o diretor acerta, creio que especialmente graças ao roteiro de Steve Kloves, na cuidadosa seqüência em que Snape, enfim, alcança sua redenção. É um dos poucos momentos realmente emocionantes deste último filme aquele no qual vemos todas as ações, atitudes e posturas adotadas pelo personagem diante de Harry Potter serem justificados. Sempre considerei Snape um dos personagens mais intrigantes e complexos da saga, e vê-lo finalmente sob uma perspectiva que justifica suas escolhas, e que ainda por cima serve como forma de desmistificar um outro personagem, tido até aqui como a bússola moral da série, é um dos grandes momentos de toda a série.

É inteligente também a variação que a fotografia de Eduardo Serra sofre ao longo do filme. Reparem como ela se torna mais granulada e "suja" quando as cenas de batalha se tornam mais intensas, remetendo diretamente a filmes de guerra como O Resgate do Soldado Ryan e Cartas de Iwo Jima.

Outro acerto de Yates é a forma como ele retrata a passagem em que Harry se encontra em seu "pós-vida pessoal". Aquela dimensão mergulhada em luz funciona perfeitamente como contraponto da floresta escura na qual o personagem "morre" nas mãos de seu nêmesis, que pode ser interpretada simbolicamente como uma extensão da mente corrompida de Voldemort.

Além disto, a decisão de representar o fragmento da alma do vilão que vive dentro de Harry Potter como um bebê abortado, além de ser ousada para uma série que começou de maneira tão inocente e encantadora, é rica em seu simbolismo, e demonstra o respeito do diretor pela inteligência crescente de um público que teve seu gosto amadurecido ao longo de 7 filmes que serviram tão bem a este propósito.

Mas, apesar de toda a qualidade técnica, "Relíquias da Morte 2" é sintético demais, e falho como celebração do grande feito que a série representou para o cinema, e na tarefa de transmitir para o público a sensação de vitória dos personagens diante do maior desafio de suas vidas. Quando a história chega à sua conclusão, ela soa anti-climática, e perde ainda mais sua força quando sede espaço à elipse final.

Quando a última cena é exibida, fica difícil não pensar que Harry Potter merecia um filme com duração maior, que se preocupasse mais em oferecer uma despedida emocionalmente marcante, do que uma seqüência de cenas de ação grandiosas, lotadas de efeitos especiais de primeira linha, mas sem aquele calor humano que esperamos sentir em nossos momentos finais ao lado daqueles personagens com que convivemos por quase 10 anos.

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