terça-feira, 19 de julho de 2011

[CRÍTICA] Lixo Extraordinário

Título Original: Waste Land

Direção: João Jardim, Karen Harley, Lucy Walker

Elenco: Vik Muniz (ele mesmo)

Ano: 2010

Duração: 94 minutos


Talvez o maior mérito de Lixo Extraordinário é dar rostos, histórias e tridimensionalidade a uma parcela da população para a qual poucos de nós davam o devido valor, respeitando-os como individualidades. Como bem observa Vik em certo momento do documentário, de longe, no meio daquelas montanhas de lixo, aquelas pessoas mais parecem formigas.

Através de diversos depoimentos muito honestos Lucy Walker, João Jardim e Karen Harley, apresentam uma variedade de personagens que despertam nossa simpatia e admiração, seja pelas lições que passam ao contar pequenos casos cotidianos, ou episódios mais dramáticos de suas vidas, de maneira muito autêntica e desinibida.

Descobrir no meio daquele cenário desolador um catador de materiais recicláveis que lê Nietzsche, e explica com invejável desenvoltura as idéias de Maquiavel, traçando com inteligência paralelos entre a Florença do escritor, e o Rio de Janeiro do catador, é uma das muitas surpresas que temos, a qual por si só denuncia nosso preconceito com relação àqueles indivíduos.

Não há como ficar indiferente diante da sabedoria de Valter; do idealismo de Tião; da beleza que luta para sobressair-se do corpo mal cuidado e judiado de Suelem; do carinho maternal da Irmã; e da perseverança de Isis.

Cada um deixa sua marca, e conquista o público pela autenticidade com que se expõe diante das câmeras. E os realizadores foram extremamente felizes ao não apelarem para o sentimentalismo barato em nenhum momento. As tragédias e alegrias surgem naturalmente em meio às conversas.

O vínculo que se cria entre seus personagens e o público é tão forte que sentimos com eles a mesma satisfação que sentiram ao ter suas vidas mudadas. É emocionante vê-las se dando conta do papel que desempenharam, e descobrindo a projeção alcançada pelos trabalhos que realizaram com a matéria prima com a qual tiveram contato por toda uma vida.

Revelador e tocante, Lixo Extraordinário, acima de tudo, é um dos documentários mais humanos que já tive a chance de assistir. Uma verdadeira lição de vida.


Nota: 5 de 5

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