segunda-feira, 9 de maio de 2011

[CRÍTICA] Terra de Ninguém


Terra de Ninguém (Badlands, EUA)

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Direção: Terrence Malick
Roteiro: Terrence Malick


Elenco: Martin Sheen (Kit), Sissy Spacek (Holly), Warren Oates (Pai), Ramon Bieri (Cato)
Ano de lançamento: 1973
Duração: 94 min.
Sinopse: Fort Dupree, Dakota do Sul, 1959. Kit Carruthers (Martin Sheen) é um jovem peão que mata o pai de Holly Sargis (Sissy Spacek), sua namorada de 15 anos, o qual não aprovava o relacionamento deles.
Kit e Holly fogem juntos para Montana, enquanto Carruthers faz mais vítimas, o que faz a polícia ir em seu encalço.

Crítica:
Apesar da premissa, Terra de Ninguém se mostra um roadmovie romântico e agradável de se assistir. Kit desperta simpatia no espectador, graças ao ótimo trabalho de composição feito por Martin Sheen, e ao hábil roteiro de Terrence Malick. Seu assassino é um rapaz com pinta de James Jean, fala mansa e aquele sotaque acaipirado de Dakota do Sul que sempre soa bem aos ouvidos (eu pelo menos acho). Há uma ótima química entre o seu personagem e o de Sissy Spacek, que confere a Holly o ar de inocência ideal para uma garota que ainda preserva um lado infantil em plena adolescência, sempre trazendo um olhar perplexo e fascinado de quem está começando a conhecer o mundo e os mistérios da natureza humana, e uma doçura nos gestos, e na maneira de falar sobre os sentimentos que nutre por Kit, e suas impressões da aventura que vivem juntos.
Claro que não seria um filme de Malick se não houvesse aquela poesia visual que tanto agrada seus apreciadores, e aqui ele não decepciona, com panorâmicas deslumbrantes, tomadas que privilegiam a beleza natural do cenário, e dividem com o espectador a liberdade e arrebatamento sentidos pelo casal de protagonistas em diversos pontos de sua viagem. Acompanhamos de perto a paz momentânea conquistada por Kit e Holly quando constroem uma casa improvisada no meio de uma floresta, onde, num tema recorrente na filmografia do diretor, vemos os personagens tão rodeados pela flora local, que muitas vezes quase se perdem em meio ao emaranhado de galhos, folhas e mato. A sensação de embevecimento e integração com o ambiente é tamanha que, quando seu território é invadido por caçadores de recompensa, não hesitamos em ficar do lado do casal, que mais se assemelham a animais silvestres acuados em seu habitat natural, se defendendo com os recursos que possuem.
É notável o equilíbrio alcançado por Malick, que confere serenidade a uma trama que tinha tudo para ser tomada por uma atmosfera mais sombria. A favor disto há o fato de boa parte da história se passar durante o dia, privilegiando espaços amplos e descampados, com paisagens e cenários quase sempre banhados pela luz do sol.
Os assassinatos surgem não como recurso para chocar o espectador, mas como uma conseqüência natural da situação em que o casal se encontra, e o alívio que sentimos por eles sempre que se livram de mais um empecilho, mesmo que por intermédio da morte de alguém, novamente confirma o cuidado com que os personagens foram construídos e desenvolvidos, a fim de torná-los agradáveis o suficiente para acompanharmos sua jornada.
Neste, que é seu primeiro longa, Terrence Malick já demonstra sua enorme competência e habilidade como contador de histórias, e sua admirável sensibilidade que o leva a capturar belezas singelas, as quais transformam todos os seus filmes em um repositório de encantamentos que leva o espectador a viajar ao lado de seus personagens.
O cinema de Malick traz sempre uma riqueza sensorial e filosófica que jamais carrega consigo um peso puramente intelectual. Está mais para a leveza que invade o ser num estado de contemplação que o faz sentir-se completo por alguns instantes, mesmo ao lado de personagens moralmente reprováveis, mas suficientemente humanos para assumirem sua pequenez e se comoverem com ela.
Nota: 4,0 de 5

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