terça-feira, 6 de setembro de 2011

[CRÍTICA] Blade Runner - O Caçador de Andróides (Final Cut)

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Título original: Blade Runner
Direção: Ridley Scott
Roteiro: Hampton Fancher e David Webb Peoples
Elenco: Harrison Ford (Rick Deckard), Rutger Hauer (Roy Batty), Sean Young (Rachel), Edward James Olmos (Gaff), M. Emmet Walsh (Bryant), Daryl Hannah (Pris), William Sanderson (J.F. Sebastian), Brion James (Leon Kowalski), Joe Turkel (Dr. Eldon Tyrell), Joanna Cassidy (Zhora), James Hong (Hannibal Chew)
Ano: 1982
Duração: 117 min.


Blade Runner, acima de tudo, é um filme esteticamente impecável. Não há como fugir desta verdade quando se fala dele, pois seu design de produção não esconde em nenhum momento sua intenção de arremessar o espectador para dentro daquele mundo e sufocá-lo durante suas quase duas horas de duração.

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Na história a humanidade encontra-se espremida entre seus próprios avanços tecnológicos. Cidades crescem desordenamente como um tumor de concreto, metal e silício. O céu está morto, tóxico, elétrico. Bolas de fogo são expelidas a todo instante por vários pontos de uma megalópole, que parece cobrir toda a superfície da Terra.

Neste mundo onde a impessoalidade parece a regra vigente, encontramos uma mistura caótica de culturas, em que idiomas se amalgamam, e os seres humanos mais parecem “corpos estranhos” num “organismo” tecnológico, seres de carne num corpo artificial. Viramos quase intrusos em nossa própria criação.

Em meio a um cenário de aplicações científicas sem fim, surgem os replicantes, seres artificiais feitos à nossa imagem, projetados para trabalhar como escravos em colônias extraterrestres. Alguns destes replicantes apresentam defeitos de tempos em tempos, e precisam ser eliminados antes de causarem mais problemas, e aí entra em cena os blade runners, responsáveis por caçá-los.

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A verdade é que o subtítulo brasileiro tenta corrigir um “erro” cometido pelos roteiristas do filme, que preferiram chamar os “vilões” da história de replicantes no lugar de andróides. O problema é que em nenhum momento do longa são apresentados indícios de que eles são máquinas. Mesmo na conversa entre Roy Batty (Rutger Hauer) e o Dr. Tyrell (Joe Turkel), que debatem sobre as limitações decorrentes do processo de criação dos replicantes, fica subentendido que eles são frutos de engenharia genética. E não podemos esquecer da parte em que Roy visita Chew (James Hong), um cientista responsável por “cultivar” olhos para replicantes, e vemos claramente que os órgãos são feitos de matéria orgânica. A diferença entre eles e os seres humanos é o prazo de vida pré-determinado, e as deficiências emocionais que possuem quando comparados a humanos normais.

A origem dos replicantes abre espaço para debates sobre a natureza da mente e da alma, e a validade das lembranças como atestado de humanidade. Mas não se deixem enganar, pois o filme é menos reflexivo do que alguns preferem supor, e sua história é mais focada na caçada de Deckard (Harrison Ford), e na tarefa de levar seus expectadores para dentro daquele mundo opressivo.

O lado mais filosófico da história concentra-se no personagem de Roy Batty, numa atuação inspiradíssima de Hutger Hauer, que rouba quase o filme inteiro pra ele, e se despede como o melhor personagem de toda a trama.


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Ao lado de Roy os demais personagens se apagam. Até mesmo Deckard, cuja história gira em torno da redescoberta de sua própria humanidade, através do irônico envolvimento amoroso com a replicante Rachel (Sean Young), acaba quase apagado pelo mundo que o cerca. E a polêmica em torno da verdadeira natureza do protagonista é “resolvida” com ambiguidade, e perde o impacto quando levado em conta o embate entre Deckard e Roy, visto minutos antes.

Apesar de nunca ter assistido a versão original, com a infame narração de Harrison Ford, achei muito acertada a decisão de omiti-la deste corte final, pois as imagens criadas por Ridley Scott e sua equipe falam por si mesmas.

Mesmo que a história tenha perdido o impacto com o passar dos anos, não há como ignorar sua enorme influência no cenário da ficção científica, especialmente no que diz respeito ao design de produção de produções subsequentes. São incontáveis os filmes que beberam da fonte criada por Lawrence G. Paull, que por sua vez baseou-se nas ilustrações do quadrinhista Moebius (especialmente as da história “The Long Tomorrow”, que você pode conferir aqui). É sem dúvida uma das direções de arte mais monumentais do cinema.


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Contando ainda com a brilhante, climática e multicultural trilha sonora de Vangelis, e figurinos que ilustram a verdadeira salada de culturas resultante de um futuro onde a humanidade tenta desesperadamente reunir o pouco que sobrou de si mesma, numa última tentativa de preservar sua memória coletiva, Ridley Scott e sua equipe criaram um futuro verossímil, e uma das experiências audio-visuais mais imersivas da 7ª arte. Uma obra-prima do gênero que merece ser revisitada de tempos em tempos.




Nota 5 de 5

Um comentário:

  1. Gostei muito Blade Runner 2049, Ford e Ryan Gosling fizeram um bom trabalho. Os filmes de Ryan Gosling teve uma grande atuação garantida, ele se compromete com os seus personagens e sempre deixa uma grande sensação ao espectador. O mesmo aconteceu com esta produção, filme Dois Caras Legais. Para mim é um dos grandes filmes de Hollywood. Gosto dos filmes de acção e comédia. O ator é um dos meus preferidos.

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