segunda-feira, 19 de setembro de 2011

[CRÍTICA] O Sol É Para Todos

19-09-2011-to-kill-a-mockingbird


Título original: To Kill a Mockingbird
Direção: Robert Mulligan
Roteiro: Horton Foote
Elenco: Gregory Peck (Atticus Finch), Mary Badham (Scout), Phillip Alford (Jem), John Megna (Dill Harris), Frank Overton (Xerife Heck Tate), Rosemary Murphy (Maudie Atkinson), Ruth White (Sra. Dubose), Brock Peters (Tom Robinson), Estelle Evans (Calpurnia), Paul Fix (Juiz Taylor), Collin Wilcox Paxton (Mayella Violet Ewell), James Anderson (Bob Ewell), Alice Ghostley (Tia Stephanie Crawford), Robert Duvall (Boo Radley)
Ano: 1962
Duração: 129 min.


O Sol É Para Todos é uma jóia rara do cinema norte-americano. É o tipo de filme do qual não saímos incólume, e pelo qual nos apaixonamos mais conforme nos lembramos de alguns dos muitos trechos que nos tocam profundamente, seja pela simplicidade com que alguns personagens enfrentam problemas complexos, ou pelas falas e diálogos poderosos o bastante para deixar sua marca em nossa memória por uma vida inteira.

Atticus Finch é o pai que todos gostaríamos de ter. Um homem que respeita a inteligência dos filhos, faz o possível para evitar que entrem em contato com o que há de pior no mundo, mas não esconde deles a feiura que existe lá fora, explicando em seus termos o que deve ser ensinado a eles.

Já Jem e Scout, os filhos de Atticus, são os personagens com os quais acompanharemos a maior parte da trama, e dois dos principais responsáveis por torná-la tão agradável de assistir, dando certa leveza à história, mesmo que esta aborde temas delicados como preconceito racial e estupro.


19-09-2011-to-kill-a-mockingbird-1

A interação entre o pai viúvo e seus filhos é outro dos grandes atrativos da história. O respeito com que Atticus trata as crianças, sendo carinhoso na medida certa, e duro quando se faz necessário, sem jamais partir pra agressividade, apenas reforça nossa admiração pelo personagem. Já seu empenho em defender Tom Robinson (Brock Peters), um negro acusado injustamente de violentar uma mulher branca, torna-o tão admirável como inspirador, sem que, para isto, o roteiro apele para o idealismo em momento algum.

Gregory Peck realiza um trabalho de atuação magnífico, tirando proveito da personalidade discreta de Atticus para dizer mais do que palavras podem transmitir, através de reações contidas de surpresa e admiração por algo que ouve dos filhos, ou do lamento comedido que expressa quando falha em cumprir o que prometera a Tom. Em suma, não há artificialidade na interpretação de Peck, que incorpora o papel com extrema segurança e naturalidade.

19-09-2011-to-kill-a-mockingbird-2

O mesmo pode ser dito Mary Badham e Phillip Alford, ambos muito à vontade diante das câmeras, agindo como crianças normais, e reagindo aos fatos sem parecerem maduros demais para sua idade, mesmo quando entram em confronto direto com os adultos (sendo o mais emocionante deles o que ocorre diante da delegacia, quando Scout desarma um bando de homens prestes a linchar Tom com palavras simples, porém diretas o bastante para despertar-lhes a consciência).

Outro fator que torna  a história tão agradável é a narração, usada de maneira econômica ao longo da trama, mas sempre no momento certo, e reforçando sua leveza. As impressões compartilhadas pela narradora (Kim Stanley) são cheias de uma sentida nostalgia. Contando com o apoio da delicada trilha sonora de Elmer Bernstein, a narração torna claro que, apesar de todas as tragédias que marcaram a vida daquelas pessoas, prevaleceram as boas recordações de um período em que tudo era mais simples e vivido de maneira mais plena e honesta.

19-09-2011-to-kill-a-mockingbird-3

Não fosse o forte laço que unia aquelas pessoas, a paz alcançada na conclusão seria impossível. É graças a um acordo mútuo que pecados menores são encobertos, em prol de um bem maior. Quando a justiça se faz presente ela chega através da inesperada intervenção de um personagem que prova ser o exato oposto do que pensavam dele. É neste engano de aparências que O Sol É Para Todos completa seu discurso de tolerância e respeito. Aquele que não podia sair à luz do sol ilumina a vida daqueles que o temiam, em sua noite de maior apuro, e conquista seu respeito e gratidão.

Gratos também ficamos nós, amantes do cinema, diante de um dos mais belos finais já concebidos. Uma nota de esperança num mundo tão cheio de falhas, pelas quais só podemos lamentar ao lado de Atticus Finch, um homem de rara estatura moral, um modelo a ser seguido, um homem cuja mão eu gostaria de apertar respeitosamente.


Nota 5 de 5

Nenhum comentário:

Postar um comentário