domingo, 17 de abril de 2011

[CRÍTICA] A Vida dos Outros


Título original: Das Leben der Anderen
Direção: Florian Henckel von Donnersmarck
Roteiro: Florian Henckel von Donnersmarck
Elenco: Ulrich Mühe (Capitão Gerd Wiesler), Martina Gedeck (Christa-Maria Sieland), Sebastian Koch (George Dreyman), Ulrich Tukur (Coronel Anton Grubitz)
Ano: 2006
Duração: 137 min.




Acima do retrato de um período dramático da Alemanha Oriental, A Vida dos Outros é um excepcional estudo de personagem.

A história começa com um Gerd Wiesler (Ulrich Mühe) que nos parece excessivamente frio e metódico, impressão esta deixada pelo minucioso "curso de interrogatório" que ministra, e durante a peça de teatro em que dá seu parecer sobre Georg Dreyman (Sebastian Koch). Mas, conforme seu arco dramático se desenvolve, conhecemos facetas que inicialmente não suspeitávamos, a ponto de nos sentirmos tocados pelo dilema que surge quando Gerd passa a lutar contra seus impulsos.

O talento de Ulrich Mühe impressiona. Sua interpretação é contida, mas o trabalho que faz com os olhos é algo que merece especial atenção. Seu Gerd Wiesler diz muito através do olhar, seja o remorso por ser responsável por uma tarefa que aos poucos torna-se indesejável. Seja a solitária lágrima que deixa escapar quando ouve uma música em um momento particularmente doloroso para ele e para "os outros". Ou ainda quando esboça um sorriso quase imperceptível ao emocionar-se com um poema que lê.

Mas o grande momento do ator é na cena que se passa em um interrogatório, no qual determinada personagem acaba dizendo algo que ele não queria ouvir, e fica nítido em seus olhos o quanto lamenta pelo rumo que os acontecimentos tomaram, sem que ele pudesse fazer mais nada para impedir o que viria a seguir.

Mas A Vida dos Outros não é somente um drama excepcional como também se converte em um suspense que ganha fôlego e potência a partir da situação limite que se estabelece entre aquele microverso de personagens. E aqui merece elogios a direção exemplar de Florian Henckel von Donnersmarck, que conduz a história sem cometer tropeços, e com tamanha naturalidade que jamais chama a atenção para si, se posicionando como mero espectador dos eventos que se desenrolam.

Uma história brilhante sobre como um indivíduo pode converter frustração em compaixão, e fazer a diferença na vida dos outros, pelo mero prazer de realizar através deles as aspirações que não foi capaz de alcançar.




Nota 5 de 5

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