sexta-feira, 22 de abril de 2011

[CRÍTICA] O Novo Mundo


Título original: The New World
Direção: Terrence Malick
Roteiro: Terrence Malick
Elenco: Colin Farrell (Capitão Smith), Q'orianka Kilcher (Pocahontas), Christopher Plummer (Capitão Newport), Christian Bale (John Rolfe), August Schellenberg (Powhatan), Wes Studi (Opechancanough), David Thewlis (Wingfield), Raoul Trujillo (Tomocomo), Yorick van Wageningen (Capitão Argall)
Ano: 2005
Duração: 172 min. (versão estendida)




Muitos podem achar o ritmo do filme monótono, cansativo e até mesmo irritante, se esperam dele uma versão mais adulta de Pocahontas, ou mesmo um foco maior no romance de John Smith com a bela índia. Não os culpo por isto, pois é compreensível que esperem.

Mas não vejo estas como as intenções que moveram Terrence Malick a escrever e dirigir sua própria versão da história clássica. O Novo Mundo é bem mais sobre um casal que se apaixona pelo novo representado pelo outro, do que um romance entre um homem e uma mulher de culturas diferentes.

John Smith (Colin Farrell) confunde seu amor e fascínio por aquela cultura que se mantém em tamanha intimidade com a natureza, que acaba alimentando sua própria ilusão, ao mesmo tempo que procura entender o que se passa com ele. Não são poucas as narrações em off onde ele tenta desvendar suas próprias impressões a respeito do que está vivendo.

Paralelamente acompanhamos o drama de Pocahontas (Q'orianka Kilcher), esta sim verdadeiramente apaixonada por John Smith, um sentimento que nasce com tamanha naturalidade graças à inocência inata da personagem, que a cada novo dia parece ver o mundo e suas belezas pela primeira vez, algo que se conclui pela maneira sempre reverente com que se relaciona com as paisagens naturais que permeiam o filme.

Malick é um diretor que não tem pressa para "provar seu ponto", e o papel do cenário sobre os personagens é tão fundamental quanto o oposto. Ele se preocupa em transmitir ao público as impressões de seus protagonistas sobre o que se passa com eles, tanto que novamente usa um recurso já utilizado em Além da Linha Vermelha, dando espaço aos pensamentos e reflexões de John Smith, Pocahontas e John Rolfe (Christian Bale). Neste ele usa uma abordagem ligeiramente diferente, em que os pensamentos se sobrepõem em diversos momentos às "falas externas", criando um efeito que lembra o fluxo de consciência das obras de Virgínia Woolf e Clarice Lispector.

Merece menção ainda a montagem, que num primeiro momento pode soar um tanto caótica, com idas e vindas no tempo, e cenas que parecem deslocadas, se levadas em conta uma ordem cronológica convencional, mas que funcionam perfeitamente bem quando levamos em consideração a proposta de seguir não a ordem exata dos fatos, mas a maneira com que eles são apresentados de acordo com as emoções e sentimentos de seus protagonistas, e a forma como estes evocam lembranças de maneira aleatória.

O Novo Mundo trata de uma simples história de amor contada de uma maneira sofisticada, com produção esmerada, e uma fotografia belíssima que valoriza cada cor, textura, e detalhe dos cenários naturais, tudo a favor de um tema recorrente na filmografia de Malick: sua paixão pela natureza, e seu desejo de transportar seus espectadoras para um mundo que muitos desconhecem. Daí a cadência compassada da narrativa, e seu ritmo que procura se distanciar da inquietação que domina a sociedade moderna. Um novo mundo, de fato, embora velho e cada vez mais distante do nosso.




Nota 4 de 5

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