domingo, 24 de abril de 2011

[CRÍTICA] Violência Gratuita (EUA)


Título original: Funny Games U.S.
Direção: Michael Haneke
Roteiro: Michael Haneke
Elenco: Naomi Watts (Ann), Tim Roth (George), Michael Pitt (Paul), Brady Corbert (Peter), Devon Gearhart (Georgie)
Ano: 2007
Duração: 111 min.




Não conheço a história por trás da produção desse remake, mas acho respeitável a decisão de Michael Haneke em dirigi-lo, assim garantindo a total fidelidade não apenas à essência mas à própria forma de sua pequena obra-prima cinematográfica, a ponto de repetir cada enquadramento do filme original. Este remake só perde para a primeira versão por faltar-lhe a originalidade, mas no quesito direção e atuações, ambos se igualam.

Quem assistiu o primeiro filme já sabe o que esperar deste, um suspense psicológico incômodo, que apesar do título que ganhou no Brasil, impressiona mais pela violência sugerida do que pela explícita.

Michael Haneke foi extremamente feliz em concentrar as poucas músicas que tocam no filme apenas na abertura, numa única cena no meio dele, e no encerramento, usando no restante da história sons ambientes e momentos silenciosos que geram desconforto no espectador, e reforçam a sensação do isolamento no qual se encontra a família que se vê refém da dupla de jovens.

Michael Pitt e Brady Corbet interpretam com precisão os papéis que foram de Frank Giering e Arno Frisch na versão original, jamais permitindo que tenhamos uma pista sequer sobre suas motivações, a ponto de brincarem com as expectativas do público apresentando várias teorias clichês, e logo em seguida descartando-as. Tal recurso transforma-os em personificações do velho medo ancestral do desconhecido, uma ameaça sem aparentes pontos fracos.

Naomi Watts, Tim Roth e Devon Gearhart entregam atuações viscerais, em especial a primeira, tornando a experiência de acompanhar seus dramas desgastante.

A famosa e controversa cena do controle remoto, que desde o lançamento da versão original incomoda tanta gente, funciona como a culminância do recurso metalingüístico usado por Haneke para tornar claro o funcionamento do filme em duas camadas distintas. Eu o vejo como uma catarse oferecida pelo diretor ao espectador, apenas para demonstrar o quanto somos vítimas de nossas expectativas, e do que julgamos como a resolução mais justa para aquela crise.

Um dos melhores filmes de terror psicológico já realizados, justamente pela ousadia de torna-se explícito em uma única cena, para logo em seguida corrigir seu próprio "erro", e transformá-lo numa crítica ao fascínio que a violência desperta nos seres humanos, sem com isto deixar de oferecer ao público uma experiência extenuante que ao mesmo tempo incomoda e gera reflexões a respeito de suas próprias reações ao que viu e ao que esperava ver. Eis o por quê de gerar tantas reações apaixonadas.




Nota 4,5 de 5

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