segunda-feira, 12 de setembro de 2011

[CRÍTICA] Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas

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Título original: Bonnie and Clyde
Direção: Arthur Penn
Roteiro: David Newman, Robert Benton e Robert Towne
Elenco: Warren Beatty (Clyde Burrow), Faye Dunaway (Bonnie Parker), Michael J. Pollard (C.W. Moss), Gene Hackman (Buck Barrow), Estelle Parsons (Blanche)
Ano: 1967
Duração: 112 min.


É preciso entender o contexto histórico no qual Bonnie e Clyde foi lançado para compreender seu sucesso, e o marco que ele representa para o cinema americano. Seu lançamento se deu numa época em que o descontentamento dos estadunidenses contra o envolvimento de seu país na Guerra do Vietnã levou-os a receber bem obras em que os personagens se posicionavam contra as instituições estabelecidas. Um casal de jovens criminosos com sex appeal, que não está nem aí para as regras, e sente prazer e diversão ao quebrá-las, acabou caindo como uma luva para os anseios dos norte-americanos.

Outro fator importante foi a influência da Nouvelle Vague francesa sobre a direção de Arthur Penn, e especialmente sobre a edição de Dede Allen, que impôs à narrativa uma fragmentação dinâmica semelhante à vista no trabalho de Jean-Luc Godard em Acossado, embora menos intensa que a deste último, mas igualmente eficaz na tarefa de imprimir ao ritmo do filme a pulsante intransigência e impetuosidade juvenil de seus protagonistas.


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Warren Beatty e Faye Dunaway exibem química desde sua primeira cena juntos, tornando o casal autêntico aos olhos do espectador, que é contagiado pela descontração dos personagens ao lidarem com o crime, visto por eles como uma carreira da qual não sentem vergonha (algo que rende uma das frases mais memoráveis do filme).

Também chama atenção o subtexto sexual relacionado à vida criminosa do casal. Clyde não é capaz de satisfazer Bonnie sexualmente, e os crimes da dupla acabam servindo como substitutos do sexo no relacionamento dos dois, e fonte de prazer para ambos.

A fotografia de Burnett Guffey, crua e direta na maior parte do filme, evitando “glamourizar” os personagens e seus feitos, se destaca no reencontro de Bonnie com sua mãe e seus familiares. O tom em sépia remete às fotos de família vistas na abertura do filme, e também ao elemento terra, símbolo das origens de um indivíduo, do local de seu nascimento. Além disto ela possui uma atmosfera enevoada, dando a impressão de que os fatos ali apresentados ocorreram num outro tempo, num mundo diferente. Além disto, também vale a pena observar como a montagem também se diferencia da vista no restante do filme. Os acontecimentos seguem aos saltos, como recordações de um sonho, cheias de lacunas, como se Bonnie propositalmente apagasse aquelas lembranças, deixando pra trás qualquer vínculo que um dia teve com aquelas pessoas.


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Além do excepcional trabalho de edição realizado na emboscada final, a montagem de Dede Allen adequa-se com perfeição às seqüências de ação, onde os cortes rápidos são precisos e coerentes, evitando a armadilha de tornar confusas as passagens mais movimentadas, que ainda contam com o suporte da empolgante trilha sonora de Charles Strouse, responsável por grande parte do clima descontraído que acompanha quase todo o filme, transformando-o numa experiência áudio-visual agradável, apesar de sua violência gráfica.

Contando também com ótimas e divertidas participações de Gene Hackman e Gene Wilder no elenco (que tornam ainda mais incompreensível o fato de Estelle Parsons ter ganho um Oscar por interpretar uma mulher que é basicamente uma histérica na maior parte do tempo), Bonnie e Clyde pode ter perdido o impacto do novo fôlego que representou na época do lançamento, mas é incontestável sua influência no cenário cinematográfico da década de 70 e das seguintes, tendo sua parcela de “culpa” na gênese de talentos como Martin Scorsese, Quentin Tarantino e Nicolas Winding Refn. Só por isto ele já faz por merecer a atenção de qualquer cinéfilo que se preze.


Nota 4 de 5

Um comentário:

  1. Inegável que ele marcou, gosto das atuações, só acho que envelheceu demais - na revisão, achei até chato em uns momentos, perdeu muito impacto. Achei que o 'humor' no filme tira um pouco da dimensão do drama vivido pelos protagonistas. abs

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